quinta-feira, 26 de março de 2009

Quem quer saber o caminho das Índias?

Aprendemos na escola a história oficial sobre o descobrimento(ou seria achamento?) do Brasil que os bravos desbravadores portugueses, a caminho das Índias, foram acometidos por uma tempestade que tirou os navios da rota original e eles foram parar em Porto Seguro.
Na era das Grandes Navegações, a Índia era o principal destino das rotas marítimas, em função da importância que as especiarias (ouro, canela, gengibre e pimenta) adquiriram para o Império Português.
Séculos depois, a Índia volta ao centro das atenções do mundo. Primeiro porque
integra o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que é o conjunto dos quatro países que vêm ganhando importância no cenário político-econômico mundial.
No começo deste ano, um filme - Quem quer ser milionário? - rodado na Índia com atores locais desbancou favoritos e levou o Oscar de melhor película. Foi a partir deste filme que comecei a questionar o quanto realmente sabemos sobre este país.
Costumamos associar a Índia a um país religioso, onde as pessoas são zen e que tratam bem uns aos outros, a natureza, os animais e que precisamos aprender sobre a cultura e religião - o hinduísmo - para, digamos assim, evoluir 'espiritualmente'.
Assistindo o filme, passei a questionar o nível de evolução atribuída a eles. Evoluído é um povo que ataca ferozmente o outro pelo simples fato de não professar a religião hindu? Escravizar crianças não-hindus também parece ser um negócio rentável lá...
Aqui no Brasil, o país oriental também está no centro das atenções e o motivo é a novela Caminho das Índias. Nela, fica patente o nível de evolução da sociedade indiana.
Como considerar, em pleno século XXI, que uma pessoa não pode ser tocada ou vista por causa da sua origem?
Como compreender que achem normal uma pessoa ser excluída da sociedade e obrigada a ser um pária social porque nasceu A, B ou C?
Olhar para a Índia é como voltar ao passado, a Idade Média. Apesar de proibido, o sistema de castas continua em vigor porque está enraizado na cultura. Neste sistema, não há mobilidade social, se a pessoa nasce em determinada casta deve morrer nela. Ou seja, a vida do indivíduo está pré-determinada desde o nascimento, não há liberdade, não há escolha...
Não estou aqui para dizer que a nossa cultura é melhor que a deles. Em alguns aspectos é sim, devo reconhecer. O foco da questão é: o que faz centenas de pessoas todos os anos ir em busca da sabedoria 'evoluída' dos 'evoluídos' gurus indianos? O que eles nos ensinam? Sobre os intocáveis? Sobre uma vaca ser mais importante que um ser humano? Que é uma honra as mulheres serem queimadas, vivas, junto com seus maridos?
Fato é que esta abundância de informações sobre este país tão distante geográfica e culturalmente do Brasil tem ajudado a desmistificar falsas impressões criadas pela mídia, pela história e assimiladas pelo senso comum como verdades.
Vinte milhões de rúbias pela resposta: Quem realmente conhece o caminho das Índias? Vá perguntar a Vasco da Gama...

2 comentários:

  1. Belo texto!!Vc sempre contestador e ao mesmo tempo,educador e alvissareiro.A diversidade de culturas exixtente no globo é inabalavel e intransponível.Mas é preciso saber o que realmente é cultura e não apenas costume.Este último sim,podemos modificar.Por exemplo:
    Aqui no Brasil,mais precisamente no nordeste nós temos o costume de achar que depois que se aprende a "ler" e escrever já está bom e pode sair da escola.Esse costume acaba sustentando a favela que já virou cultura.Atualmente,nenhum turista retorna ao seu país de origem sem antes visitar uma linda favela porque ela ja se transformou em nosso retrato falado em qualquer país que se vá.Por causa de um mal costume transformamos a favela em cultura.
    "Favela,é favela,respeite o povo que vem dela"
    Beijofofo.

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  2. É verdade Carlos...existem duas índias: a primeira rica e cheia de cores que vemos ao ligar nossa TV...como mulher dá até vontade de morar lá...só para poder usar aqueles lenços coloridos e todas aquelas jóias...pura ilusão de felicidade...pq como vc tão bem explanou: mulher lá não tem essa importância toda...a segunda índia (e a verdadeira)...conheçeríamos profundamente ao colocar nossos pés nesse país rico em desigualdades sociais...é então natural encarar como "costume" a desigualdade ?!? Eu creio que não...

    bjos, Kate Brito
    Fortaleza-CE

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