quinta-feira, 26 de março de 2009

Quem quer saber o caminho das Índias?

Aprendemos na escola a história oficial sobre o descobrimento(ou seria achamento?) do Brasil que os bravos desbravadores portugueses, a caminho das Índias, foram acometidos por uma tempestade que tirou os navios da rota original e eles foram parar em Porto Seguro.
Na era das Grandes Navegações, a Índia era o principal destino das rotas marítimas, em função da importância que as especiarias (ouro, canela, gengibre e pimenta) adquiriram para o Império Português.
Séculos depois, a Índia volta ao centro das atenções do mundo. Primeiro porque
integra o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que é o conjunto dos quatro países que vêm ganhando importância no cenário político-econômico mundial.
No começo deste ano, um filme - Quem quer ser milionário? - rodado na Índia com atores locais desbancou favoritos e levou o Oscar de melhor película. Foi a partir deste filme que comecei a questionar o quanto realmente sabemos sobre este país.
Costumamos associar a Índia a um país religioso, onde as pessoas são zen e que tratam bem uns aos outros, a natureza, os animais e que precisamos aprender sobre a cultura e religião - o hinduísmo - para, digamos assim, evoluir 'espiritualmente'.
Assistindo o filme, passei a questionar o nível de evolução atribuída a eles. Evoluído é um povo que ataca ferozmente o outro pelo simples fato de não professar a religião hindu? Escravizar crianças não-hindus também parece ser um negócio rentável lá...
Aqui no Brasil, o país oriental também está no centro das atenções e o motivo é a novela Caminho das Índias. Nela, fica patente o nível de evolução da sociedade indiana.
Como considerar, em pleno século XXI, que uma pessoa não pode ser tocada ou vista por causa da sua origem?
Como compreender que achem normal uma pessoa ser excluída da sociedade e obrigada a ser um pária social porque nasceu A, B ou C?
Olhar para a Índia é como voltar ao passado, a Idade Média. Apesar de proibido, o sistema de castas continua em vigor porque está enraizado na cultura. Neste sistema, não há mobilidade social, se a pessoa nasce em determinada casta deve morrer nela. Ou seja, a vida do indivíduo está pré-determinada desde o nascimento, não há liberdade, não há escolha...
Não estou aqui para dizer que a nossa cultura é melhor que a deles. Em alguns aspectos é sim, devo reconhecer. O foco da questão é: o que faz centenas de pessoas todos os anos ir em busca da sabedoria 'evoluída' dos 'evoluídos' gurus indianos? O que eles nos ensinam? Sobre os intocáveis? Sobre uma vaca ser mais importante que um ser humano? Que é uma honra as mulheres serem queimadas, vivas, junto com seus maridos?
Fato é que esta abundância de informações sobre este país tão distante geográfica e culturalmente do Brasil tem ajudado a desmistificar falsas impressões criadas pela mídia, pela história e assimiladas pelo senso comum como verdades.
Vinte milhões de rúbias pela resposta: Quem realmente conhece o caminho das Índias? Vá perguntar a Vasco da Gama...

terça-feira, 24 de março de 2009

Por que o REDA me RETA!

O REDA - Regime Especial de Direito Administrativo - é um instrumento legal que foi criado para ser usado em certas ocasiões, e que tivessem como características a necessidade de um lado e a urgência de outro.
Ocorre que, desde a sua criação, o REDA vem sendo utilizado para - de forma ilegal e imoral - ocupação de cargos por pessoas, geralmente ligadas ao grupo político que está no poder, em detrimento da realização de concursos públicos, que deveria ser a regra.
É fato que o REDA vem sendo utilizado nos governos estaduais, municipais, federal e até mundial(pode ser, não sei!) há muito tempo. Fato também que a antiga oposição baiana - hoje governo - demonizava o REDA mais que tudo no mundo. Demonizava, pretérito perfeito. Ou seria imperfeito?
Nas eleições de 2006, foi eleito o atual governador Jaques Wagner(PT) e uma de suas propostas era acabar com o REDA e realizar diversos concursos públicos no Estado da Bahia. A propaganda eleitoral obrigatória na TV e na rádio não cansava de repetir que acabaria com o REDA.(Sim, eu assisto os programas eleitorais para cobrar depois, como agora). Há quem interessar possa, votei nele por acreditar que isto aconteceria...
Chegando ao terceiro ano do mandato do governador, o que eu percebi foi que os concursos públicos não foram realizados e que o REDA ganhou um aspecto mais legalista. Incentivando, inclusive, um uso cada vez maior pelas prefeituras Bahia à fora.
Antes, o REDA singnificava pura e simplesmente a nomeação do escolhido pelo governante. Era assim, acintosamente ilegal. Atualmente, é realizado um processo seletivo simplificado para a escolha dos ocupantes de tais cargos. Ou seja, o REDA adquiriu um aspecto - falso - de legalidade.
Resumindo, a entrevista e a análise de currículos terminam sendo usadas para escolher os ocupantes de tais cargos. A análise do currículo e a entrevista são procedimentos extremamente subjetivos, podendo levar à uma escolha por aquela pessoa que compartilha da mesma ideologia ou opção política daqueles que estão no poder. Ademais no processo seletivo simplificado não existe o controle, e se existe é mínimo, de todos os procedimentos como ocorre com o concurso público.
Deixo claro aqui que não estou a falar da capacidade ou competência dos escolhidos, mas da forma da escolha.
Vou dar dois exemplos. Comenta-se que o último processo seletivo realizado no âmbito da Secretaria Estadual de Educação foram cartas marcadas. Todos sabiam quem seriam as pessoas que passariam no processo seletivo do REDA, o que de fato ocorreu. Elementar meu caro, Watson!
Em outra ocasião, no começo do ano passado, fiquei sabendo de um concurso para a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania. Me interessei e fui até o site do órgão quando me deparei com os absurdos: não era concurso, era REDA; eram 2 dias apenas para a inscrição que somente era feita via internet; a exigência para os cargos de nível superior na área jurídica era de tal maneira específica que na hora percebi que não era para mim, os cargos já tinham dono.
Dias depois fiquei sabendo que o Ministério Público do Estado requereu a anulação do edital do REDA por causa destas e de diversas outras ilegalidades ocorridas no âmbito da Secretaria de Justiça. Justiça? Quem deveria dar o exemplo...
Ainda no primeiro ano de gestão do atual governo, foi anunciado um calendário para a realização de concursos públicos, em todas as áreas, para substituir o REDA. Final das contas, o REDA 'carlista' é que foi substituído pelo REDA 'petista'.
E os tais concursos, anunciados com estardalhaço, foram suspensos. A culpa agora é da 'marolinha', que não ia atingir o Brasil. Mas os tais processos seletivos para o REDA continuam a todo vapor. Vai entender...
Aproveitando o ensejo. Não adianta realizar concurso público e contratar empresas conhecidas e processadas por fraudes e ilegalidades das mais diversas em concursos passados que rendem controvérsias até hoje. É imoral do mesmo jeito. O aspecto de 'legalidade' é tão falso quanto uma nota de 3 reais!
Para terminar, vou dar um PTaco (neologismo by Lilian Simões) e citar a máxima que diz: "MUDAR, PARA CONTINUAR IGUAL".
Atualizado em 26/03/2009 às 14h36 - Abaixo, nova definição da sigla REDA, por Lilian Simões: (R)ala no (E)mprego e (D)epois (A)deus.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Dogmas, a lógica e o absurdo

A discussão acerca da excomunhão da família da menina, que engravidou após anos de estupro pelo padrasto, e dos médicos que realizaram o procedimento, parece já ter se tornado página virada no noticiário, tamanha a quantidade de escândalos os quais somos obrigados a tomar conhecimento todos os dias. Reconheço que tratar de religião é adentrar em um tema altamente espinhoso e polêmico.

A excomunhão das pessoas citadas acima, não bastasse o absurdo, foi acompanhada de uma declaração do bispo de Olinda e Recife, responsável pela excomunhão (confirmada pelo Vaticano): "O aborto é pior que o estupro". E ainda, da exclusão do estrupador da excomunhão. Parece piada, mas não é.
A criança, ainda que tivesse sido estuprada uma única vez - o que não foi o caso - já se considera violência repugnante. Ela, junto com a irmã, foi violentada durante anos pelo agressor. E o resultado trágico foi a gravidez, de gêmeos.

O corpo de uma criança de 9 anos não está preparado fisiologicamente para uma gravidez, ainda mais de gêmeos. Era provável que os fetos não suportassem a gestação toda e caso isso acontecesse, como seria o parto das crianças, as três? A vítima poderia falecer e caso sobrevivesse, como seria lidar com o fato de ter filhos aos 9 anos?
No momento em que se coloca em uma escala de importância a crença acima do ser humano, a religião deixa de ter razão de existir, pelo menos para mim.

Não bastasse esse absurdo, ainda me aparece outro bispo para dizer que, contrariando a história, os nazistas não construíram câmaras de gás nos campos de concentração nazistas, assim como o número de mortos vítimas do nazismo não passa de 600 mil pessoas, segundo cálculos 'estatísticos' dele. Foram mais de 6 milhões de pessoas!
Poderiam ser 60 mil, 6 mil, ou mesmo 6. O que importa neste caso era o objetivo macabro de exterminar um povo. Ainda bem que não conseguiram!
A questão, na minha percepção, é a existência de dogmas. Dogmas são crenças ou doutrinas impostas e que não permitem contestação, são verdades absolutas. Verdades absolutas? Existem verdades, infinitas e relativas! Cada um tem a sua e querer impor seu dogma aos outros - seja ele filosófico, político ou religioso - é um comportamento que não cabe mais no mundo de hoje. Querer impor uma dogma é impedir que o outro se manifeste ou utilizar certos artíficios para deslegitimar a manifestação da verdade alheia.

O bispo de Recife e Olinda, por exemplo, foi à Justiça para tentar impedir a realização do procedimento. Ou seja, ele quis impor seu dogma a uma família, e a toda sociedade. Ele ainda pensa está na Idade Média, período no qual a Igreja exercia influência preponderante no poder temporal(político) da época, cujos métodos autoritários e violentos - para assegurar a prevalência dos seus dogmas sobre qualquer outra verdade - passaram para a história com o nome de Inquisição.


Todos têm o direito de acreditar nas suas verdades, ou mesmo nos seus dogmas, e até mesmo não acreditar em
nada. Porém, ninguém tem o direito de impor seus dogmas a quem quer que seja. Infelizmente, engana-se quem pensa que os bispos estão sozinhos...

Ainda falando em dogmas, hoje no Brasil parece ser extremamente perigoso fazer qualquer crítica ao governo de um presidente tão popular. É um dogma político estabelecido no país acreditar que o presidente Lula está acima do bem e do mal e que seu governo se aproxima da perfeição. Não retiro os méritos e os acertos da sua gestão, talvez por este motivo tenha contribuído - com meu voto - para suas duas eleições.


Qualquer crítica a uma ação ou omissão já é motivo para pedir asilo - exagero? - porque você passa a ser mal visto pelos outros, periga se tornar um pária social ou inimigo da pátria, mesmo que tenha votado nele. Ou não, como diria Caetano Veloso!
Esta lógica absurda também se aplica, em alguns casos, a crítica política direcionada a governos. Criticar - para alguns - é errado, proibido, seria um pecado capital. Considera-se ressentimento, inveja, lamúria, etc. Argumentos medíocres utilizados para deslegitimar uma crítica e, até mesmo, a existência de uma oposição.

Com uma ressalva importante: Desde que os mesmos porventura não estejam na oposição, que passa ser considerada o último bastião da democracia. Paradoxal? Voilà! Não precisamos de máquina do tempo para voltar à Idade Média - critique! - que a inquisição virá ao seu encalço. Quem se habilita?

Há um filme interessante sobre o tema, recomendo inclusive aos mais religiosos que não assistam. Dogma, de Kevin Smith, é uma comédia sobre as consequências - fatais para a humanidade - decorrentes da existência de dogmas na sociedade contemporânea.

domingo, 8 de março de 2009

Cores musicais

Depois de uma noite dominada pela boa música - jazz no MAM, mpb, samba de roda e bossa nova - vou ousar sair de minha área e tratar de um assunto o qual eu conheço apenas como ouvinte: a música.

Na realidade, foi pouco depois do show de Gal Costa no Porto da Barra que fiquei imaginando o ‘senso comum’ - criado através das artes (músicas, poesias, artes plásticas) e o próprio cotidiano - no qual identificamos ou relacionamos as cores a determinados sentimentos.
Pensando em cores nas músicas relembrei de “Aquarela” de Toquinho, e lembrei que ficava fascinado com aquela propaganda da Fabber Castel e tentava, em vão, repetir no desenho as cinco ou seis retas e daí surgir um castelo, ou então com dois riscos fazer um guarda-chuva. O tubo de tinta poderia cair todo(não apenas um 'pinguinho') porque nada acontecia: nem gaivota voando, nem avião rosa e grená. Por muito tempo me perguntei, cor grená existe mesmo?

O começo de tudo foi ouvir Azul, de Djavan, na voz de Gal Costa. A letra da música fala de um amor “azulzinho”. Amor este, se estiver em falta, vai lá na maresia e “pega” um cheiro de azul e tudo se resolve. Quero um ter um amor assim, "azulzinho": calmo, tranquilo, como as águas do Porto da Barra.

No final, a música fala de um nascer do sol amarelinho, bem cedinho. Amarelinho, no contexto, tímido. Foi daí que me reportei à outra música, Yellow, ou “Amarela” do Coldplay. Ambas utilizam a cor para expressar o sentimento de timidez, falta de coragem...

Na música as estrelas brilham amarelo, ‘sem brilho’; a canção é ‘amarela’, a pele é ‘amarela’, a pessoa cuja canção foi dedicada também é ‘amarela’. É comum no dia-a-dia utilizar expressões como “amarelou”, quando deixou de fazer algo que poderia; ou mesmo “menino amarelo”, que é aquele que não tem iniciativa e coragem.
É imperioso recordar das aulas de Literatura ou Redação no Oficina. Magali Mendes chamava minha geração de "meninos amarelos" criados com danoninho. Ela utilizava a expressão exatamente contrapor a minha geração(dos anos 80) com a mítica geração dos anos 60 que lutou contra a ditadura. Pessoa rara Magali Mendes!


Ainda no final da música 'Yellow', o autor ao falar que doaria todo seu sangue para a “pessoa amarela”, acredito eu, seria com o intuito de conferir vida a ela, no sentido pleno da palavra. Pensamento contínuo lembrei da música Vermelho de Chico da Silva cantada por Fafá de Belém.

Vermelho, oposto do amarelo, traz toda uma carga de vida, força, ideologia e vitória: “A ideologia do folclore, avermelhou!”, "o fogo de artifício da vitória vermelhou”. Nas religiões de matriz africana, candomblé e umbanda, a cor vermelha é identificada com a orixá Iansã que é conhecida pela coragem, determinação e força.

Falando das religiões afro no Brasil é falar da raça negra. Em diversas canções de compositores, baianos principalmente, a cor Negra é exaltada como a cor da beleza, da resistência e da liberdade. Em Alegria da Cidade, de Lazzo: “A minha pele de ébano é a minha alma nua... Tem a plumagem da noite, e a liberdade da rua”; ou em O mais belo dos belos, de Guiguio / Valter Farias / Adailton Poesia: “A minha beleza negra...vai exalar seu charme para o mundo ver”; ou em Sorriso Negro: “Negro é uma cor de respeito”.

Para terminar com outra aquarela, não posso deixar de citar Trem das Cores de Caetano Veloso. A canção é uma boa mistura de sensações e uma profusão de cores: “a franja na encosta cor de laranja”, “crianças cor de romã”, “azul que é pura memória de algum lugar”, “lábios cor de açaí”. É
uma sinestesia(mistura) de sensações que envolvem a visão, o olfato, a audição, o tato e o paladar. É a própria vida!
Como diz Caetano: "E aqui trem das cores, sábios projetos": Enquanto ouve uma música, pegue a aquarela(rédea) de sua vida, perceba a quantidade de cores e tonalidades(oportunidades) que ela tem e sem medo de ser feliz, é só começar a pintar a próxima página em branco (o amanhã/o futuro!)

terça-feira, 3 de março de 2009

Política: Soltando os bichos...

Há muito tempo venho matutando para falar deste assunto: Chegou a hora de soltar os bichos da política de Ipirá.

É fato que cresci fazendo parte de um grupo político intitulado ‘jacu’, o qual tinha como maior adversário o grupo intitulado ‘macaco’. Confesso que fiquei incomodado, quando me ‘entendi por gente’, ao ficar rotulado desta forma. Não existe nem nunca existiu incômodo da minha parte por fazer parte deste grupo, que fique bem claro.

É exatamente neste ponto que eu quero chegar. Reduzir grupos políticos a denominação jocosa de um animal é, no mínimo, um desrespeito à inteligência. Não é crime fazer parte de um grupo político por isso ninguém deve ser hostilizado ou menosprezado por isso. Afinal, grupos e partidos políticos são definições bem próximas.

Uma das diferenças básicas entre o partido e o grupo político é que para fazer parte do primeiro deve haver filiação, a aceitação do partido que possui um estatuto interno e o mais importante, permite candidatura a qualquer cargo eletivo, entre outras condicionantes legais. Para ser integrante de um grupo político, principalmente no interior, são muitas as variáveis: simpatizante ou filiado a determinado partido do grupo, relações familiares, de amizade e de afinidade construídas através da história. Além da concordância ou similaridade nas ideologias, e claro, interesses em comum. Não necessariamente interesses escusos...

Falando em história, é através delas que se formam os grupos políticos, e mesmo os partidos. Por este motivo, costuma-se usar como argumento para deslegitimá-los a idéia de que alguns surgiram em períodos não-democráticos. Atualmente, esta característica não faz tanta diferença, senão vejamos.

Fala-se muito que dentro dos grupos políticos existe um chefe político, prefiro chamá-lo de líder político. Costuma-se comparar com a figura do coronel do passado, figura remanescente da República Velha.

Na Bahia, não há melhor exemplo que ACM, líder dos ‘carlismo’ que governou o estado durante muito tempo. Apresentou, por exemplo, como candidatos ao governo nomes de técnicos como Paulo Souto, César Borges, Otto Alencar, etc.

Atualmente, Lula – líder do PT e PCdoB/PSB (grupo político - o lulismo?) – escolheu como sua candidata a presidência uma técnica, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela nunca disputou uma eleição, nem mesmo para vereadora. O presidente já está inclusive fazendo campanha antecipada para ela. Lula escolheu sua candidata e o PT, e partidos satélites, aceitaram. Pesquisas realizadas dão conta de que ela já tem o apoio de mais de 80% dos petistas. Lula sempre foi maior que o PT, fato. ACM apontou como sucessor o ex-governador Paulo Souto. Lula e ACM não se aproximam neste aspecto?

Outro argumento usado para hostilizar um grupo político é o fato de haver sucessão hereditária da liderança para a disputa por cargos eletivos. Como se houvesse imposição do líder, o que de fato também pode ocorrer. Em Ipirá e na Bahia é dispensável nominar os exemplos, vamos a outros. Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, neto do também ex-governador Miguel Arraes (o comunista); Zeca Dirceu (PT), prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR) e filho do ex-presidente do PT, José Dirceu. Antes de ser expulsa do PT, Luciana Genro se elegeu Deputada Estadual e Federal com a ajuda do pai, o atual Ministro Tarso Genro, duas vezes prefeito de Porto Alegre(RS), um dos princiais líderes do PT gaúcho. Sucessão político-familiar nesses casos pode?

Para ir mais longe, um pouco acima da linha do Equador, o único país americano governado por uma dinastia há mais de meio século. Cuba! Há mais de 50 anos a ilha caribenha é governada pela dinastia dos Castro. Primeiro pelo El Comandante Fidel Castro, atualmente pelo seu irmão Raúl Castro. Registre-se que tudo ocorre em uma ditadura: sem liberdade de imprensa, sem partidos políticos, sem oposição, sem liberdade. Não se pode falar em sucessão dinástica sem citar Cuba.

Estranho, mas outro argumento utilizado é a relação de fidelidade política dos integrantes com o grupo político que fazem parte. Estranho, porque em que a fidelidade partidária e/ou política é menosprezada, característica que deveria, ao contrário, ser incentivada. Excluída a fidelidade cega, um mal em si mesmo, auto-explicativo. Mas, em uma época em que certos políticos trocam de partidos e de grupos para se manter no poder, e ainda assim continuam a ser votados tudo é possível. Leia artigo escrito por mim sobre Fidelidade Partidária.

Ou será que algum filiado de um partido (PT/PCdoB/PSDB/DEM/PMDB) iria votar contra o candidato da legenda? Ou mesmo contra o novo entendimento do partido? Recentemente, vários parlamentares foram expulsos do PT – como a ex-senadora Heloísa Helena – por discordar dos novos rumos do partido. Fazer parte de um grupo político é como ser integrante de um partido. Fidelidade ou infidelidade?

Levado pelo vento da ‘mudança’ o PT de Ipirá, outrora grande crítico da existência dos ‘famigerados bichos políticos’, na última eleição fez aliança com um dos grupos políticos da cidade. Inclusive, com o apoio do atual governador, que fez questão de dizer que atravessou meio mundo para participar do comício dos agora correligionários e chamando-os pelo codinome da 'bicharada'. Nunca diga: “Desta água não beberei”.

Pausa para a Reflexão: Por que o PT mudou de atitude e aceitou se unir a ‘bicharada’?
( ) Tudo pelo poder
( ) Se Lula mudou (é aliado de Jáder Barbalho, José Sarney, Collor, Renan Calheiros), por que o PT local não pode?
( ) Era tudo retórica vazia,
os grupos políticos têm o direito de existir mesmo.
( ) Todas as respostas anteriores

É na eleição que os ânimos se acirram e que a identificação 'animal' fica mais visível. Sabiamente, ambos os grupos transformaram o antes depreciativo apelido em marketing eleitoral. Até mais que isto, tornaram o animal o símbolo de identificação do grupo. Assim como ocorre com os partidos: o PT tem a estrela, o PSDB o tucano, o PCdoB a foice e o martelo, o DEM adotou uma árvore, etc. Se partido pode, é proibido/errado para o grupo político?
Passada a eleição, época de euforia, a princípio ninguém deixa de fazer parte do grupo político(A princípio, porque há políticos que estão apenas de um lado: o do poder). Assim como ninguém deixa de faz
er parte da família, do grupo religioso que frequenta e dos outros grupos sociais dos quais faz parte.

Penso, no entanto, que é extremamente preconceituoso afirmar que todas as atitudes de uma pessoa são definidas exclusivamente pelo fato de ser integrante de certo grupo político. É a banalização, primeiro da opção política, depois da própria pessoa como se ela não possuísse opinião, sentimentos e interesses próprios. É o reducionismo chulo: “faz isso porque é ‘bicho’”. É fato que algumas pessoas agem assim, no entanto, qualquer generalização ou radicalização é burra. Costuma-se, infelizmente, projetar no outro o reflexo do espelho de si mesmo...
Não é banalidade fazer parte de um grupo político. Banalidade é, ao contrário, querer reduzir os integrantes de tais grupos aos bichos porventura identificados, uma forma de retórica política vazia e preconceituosa, cujos defensores da idéia geralmente se auto-proclamam revolucionários, libertários e até mesmo, democráticos! Retórica, aliás, que é uma forma de esconder a própria paixão (pela) política, travestida de um falso não-envolvimento, e de ‘imparcialidade’ e ‘racionalidade’.

Política é razão, mas também é paixão. Certamente não foi a razão que fez o presidente participar de todas as eleições presidenciais desde o fim da ditadura militar, assim como o atual governador da Bahia, que no começo da campanha que o elegeu - foi considerado o azarão - tinha menos de 20% dos votos e nem de longe era considerado o favorito.

Acredito que a paixão é parte integrante da política. É a própria dinâmica da política. As eleições se comparam a campeonatos esportivos. As bandeiras (ambos têm), a escalação dos times (os candidatos), as torcidas (os filiados/simpatizantes mais aguerridos), os jogos (os debates e os comícios – quem levou maior torcida?). É claro que todos querem ganhar o troféu, a eleição! A forma como se ganha o troféu (a eleição) já é outra discussão.

Não se pode, no entanto, pregar a extinção de grupos políticos apenas porque há uma identificação ‘animal’ neles.
Dizer que a existência da bicharada é prejudicial para a democracia (para dizer o mínimo) é, trocando em miúdos, pregar a extinção de grupos políticos. E pregar a extinção do outro, ainda que seja seu adversário, é uma atitude anti-democrática.

Os valores democráticos nos ensinam que numa eleição se deseja sim a derrota política(ou várias derrotas políticas),
nunca a destruição ou extinção do outro. A aniquilação do outro/diferente só ocorre em ditaduras (Cuba/China /Coréia do Norte/Brasil de 64), regimes de exceção, facismo, nazismo...

Para terminar, uma frase do iluminista
Voltaire, que diz: “Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la”. Direito de dizer, direito de concordar, direito de discordar, enfim...direito de existir!