Quais os critérios de escolha entre F. Chopin ou pagode? Da mesma forma, por que um leitor prefere as tais revistas de celebridade aos clássicos da literatura? E um telespectador, que tem o controle (remoto) nas mãos para decidir que programa de televisão assistir: mundo cão ou jornalísitico? Por que pensar em tudo isso?
Sábado chuvoso em Salvador e dispensa vazia, só há um lugar para ir à noite: o supermercado, que pensava estivesse vazio mas estava movimentado demais para o horário.
Na fila à espera do "chamado" do caixa não passa despercebido que na prateleira da fila estão estrategicamente postos produtos supérfluos de primeira necessidade: chocolates, salgadinhos e gomas de mascar, além de revistas de celebridades que tratam de assuntos não menos importantes: o ex-marido de fulano engravidou ciclana, ex-mulher de beltrano que é filho de fulano; a mulher fruta está namorando com o jogador animal; receitas para trazer o amor de outras vidas e as novas descobertas sobre as benesses de um condimento plantado por monges cegos de uma pequena ilha da Nova Guiné. Do outro lado, porém, estão pocket books - clássicos da literatura nacional e mundial - de Agatha Cristhe, Machado de Assis e jornais. O preço das revistas de celebridade (R$ 7,90) é praticamente equivalente aos dos livros (R$ 8,90). Qual escolher?
Também como telespectador temos o controle do que assistir na TV. No horário do almoço há canais abertos que disponibilizam programas que retratam o "mundo cão" da forma mais grotesta e grosseira possível, assim como outros que apresentam programas jornalísticos e esportivos. É o cidadão que tem o controle (no sentido duplo da palavra) para decidir o que assistir. O programa jornalístico está a um clique do mundo cão, quem tem o controle?
Na Bahia, há uma discussão eterna sobre o espaço dos diversos estilos musicais. Os rockeiros são os principais críticos da hegemonia da Axé Music e afins (pagode e forró) no cenário musical baiano. Também sou consumidor do estilo, porém considero "axé" as músicas que tratavam da baianidade e do carnaval das décadas de 80 e 90, na época em que curtia as micaretas em Ipirá. Poucas músicas hoje se encaixam neste perfil e estas geralmente tem o dedo do showman Carlinhos Brown.
E a música clássica, tem espaço na Bahia? Impossível não pensar nisto enquanto não escuta um concerto que reuniu a OSBA e o pianista polonês Jan Krzystof Broja, um virtuose da nova geração de músicos europeus, no Teatro Castro Alves para celebrar o bicentenário de F. Chopin. Não só em eventos restritos como este é possível escutar música clássica na cidade. Durante os festejos do 2 de julho diversas orquestras se revezam na apresentação de concertos para comemorar a nossa independência e poucas são as pessoas que ficam para prestigiar. Por que?
Política cultural é um tema inesgotável, portanto, este escrito não quer nem tem a pretensão de encerrar o assunto mas colocá-lo em pauta. Por que determinada parcela da população que tem acessos a bens culturais mais elaborados simplesmente os ignora?
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