sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

NOSSO AVESSO - Luiz Fernando Veríssimo

Depois das revelações do chef franco-nova-iorquino Anthony Bourdain no seu livro Kitchen Confidential, publicado há alguns anos, muita gente passou a desconfiar do que comia em restaurantes. Aparentemente, aquele mito de cozinheiros fazendo higiene íntima com a sopa antes de mandá-la para a sua mesa não era mito. Pelo menos em Nova York, segundo Bourdain, as cozinhas eram versões revisadas do Inferno de Dante que podiam até incluir o Dante comendo a Beatriz enquanto ela mexia o molho. O livro foi um “succès de repugnance” nos Estados Unidos e deve ter contribuído para aumentar a onda de restaurantes com vitrine dando para a cozinha, para mostrar que não há nada a esconder. O que é uma pena, porque o contraste entre cozinha e salão faz do restaurante uma boa metáfora para a divisão de tudo - inclusive a gente - entre bastidores caóticos e frentes enganosas.

Você e eu também temos a personalidade que aparece e os seus fundos, e quem vê nossa cara (que é o nosso avesso, como escreveu a Clarice Lispector) nem sempre adivinha a confusão que tem lá atrás. Os pratos voando, o xingamento, a fumaça. Por trás de cada ato e cada frase dita há uma engrenagem oculta e todo o mundo é só a ponta visível do seu próprio iceberg, cuja extensão pouco varia, seja você intelectual ou manicure. A cara que apresentamos aos outros é como o prato que chega bem montado na mesa, sem vestígio do turbilhão em que se originou. Se os outros vão aceitá-lo ou mandá-lo de volta à cozinha é outra história.

Você não gostaria de saber o que há por trás desta crônica, por exemplo. Seus bastidores não são nada atraentes. Minha aflição com o prazo de entrega, a sonolência porque ontem não dormi muito bem, todos estes livros empilhados que não consigo arrumar, o que dirá ler, desde o século passado, a velhice chegando, o gás acabando, o Internacional desse jeito... Não interessa. A crônica tem que sair na hora certa, com a coerência possível. Não dá nem para acrescentar uma nota de pé de página, explicando as circunstâncias de um mau texto e pedindo a indulgência do leitor. Vale o que aparece, sem desculpas. Esse iceberg só tem ponta.

Uma peça de teatro ou um filme também são como o salão de um restaurante, o resultado apresentável de uma retaguarda cuja complexidade e desorganização nem se imagina. A cozinha com vitrine equivale à incorporação dos bastidores à peça, a todo filme ter junto o seu “making of” e ao turbilhão interior de cada um estar na cara.

O que não é totalmente ruim. Existe um certo prazer estético em conhecer o outro lado, como o avesso de uma tapeçaria em que se vê o mesmo desenho da frente mas com as costuras e as sobras de linha à mostra - e que muitas vezes tem mais caráter do que o lado certo. Caráter, afinal, é isso: costuras e sobras de linha aparecendo. Inclusive as nossas.

Mas prefira não enxergar a cozinha. Não importa o que o cozinheiro esteja fazendo com a sopa.

Romântico Analfabeto

(Da série Poesia numa Hora Destas?!)

E disse o piloto à sua amada

“Eu escreveria seu nome mil vez no céu com o rastro do meu jato, Cecília,

se não fosse tão difícil fazer a cedilha.”

'Segundo o livro, as cozinhas de Nova York eram versões revisadas do Inferno de Dante'

'Você não gostaria de saber o que há por trás desta crônica. Seus bastidores não são nada atraentes'.

MENSALÃO: CORTANDO O MAL PELA RAIZ

O Supremo Tribunal Federal, em um julgamento histórico, aceitou a denúncia contra os 40 acusados que abalaram a política nacional no primeiro governo do Presidente Lula.

Considerando todas as discussões acerca da importância de tornar réus figuras expoentes do Partido dos Trabalhadores e até que ponto esse julgamento vai abalar a popularidade do presidente Lula, é preciso ter a clareza de reconhecer que o mensalão é uma novidade enquanto nomenclatura, haja vista que a prática de compra de apoio político é uma constante no nosso país.

A compra de apoio político deve ser analisada também na perspectiva vertical, político-eleitor, e reconhecer nela a origem dos outros mensalões. A captação ilícita de sufrágio nas eleições não deixa de ser um compra de apoio político específico e voltado para a conquista de um mandato popular.

No interior do Brasil ainda é comum à compra de votos do eleitor em troca de cestas básicas, telhas, cimento, tijolos, exames dos mais variados, dentaduras, etc. A precária prestação de serviços no atendimento à população mais carente é um dos principais fatores da ocorrência dessa conduta ilícita por parte dos políticos brasileiros.

A compra de votos não ocorre nas classes mais pobres apenas. As classes mais abastadas também têm sua parcela de responsabilidade. O apoio político é vendido em troca de um cargo numa secretaria para si ou para família ou contrato da prefeitura com uma empresa, por exemplo. O princípio é o mesmo!

A compra de apoio político pode ocorrer de forma positiva ou negativa. A forma positiva se caracteriza pela troca efetiva do voto no candidato comprador em troca de um bem ou serviço prestado a determinado eleitor que muda o seu voto, deixando de votar no outro candidato mais ainda assim exercendo sua cidadania, ainda que de forma viciada.

Na forma negativa a compra desse apoio ocorre na relação inversa, é o impedimento do eleitor de votar no candidato adversário. O eleitor entrega seu título e seu RG em troca do bem ou serviço oferecido. Essa prática muito comum hoje no interior é muito mais prejudicial à democracia porque retira do eleitor todo o poder como cidadão: vicia a vontade completamente e retira de sua esfera de poder qualquer possibilidade de exercício primordial da cidadania que é o voto. Esse tipo de corrupção eleitoral é um dos grandes responsáveis pelo grande número de abstenções constatadas através dos anos.

A legislação eleitoral brasileira vem sendo modificada no sentido de tornar mais rigorosa a punição da compra de votos, captação ilícita de sufrágio, com a perda do mandato e inelegibilidade eleitoral por três anos.

De nada adianta maior rigorosidade na lei se a justiça eleitoral não é célere o suficiente para imprimir eficácia ao dispositivo legal.

A compra de apoio político deve ser combatida em todas as esferas e em todas as suas manifestações. Para que essa mudança ocorra é preciso dar celeridade e preferência aos processos eleitorais. Em nome da segurança jurídica e da paz social nos municípios os juízes devem decidir o mais rapidamente possível sob pena do resultado final não ter eficácia real. O município baiano de São Francisco do Conde é um exemplo. O prefeito eleito em 2004 tem se alternado no poder com o segundo colocado desde que assumiu a prefeitura no ano seguinte.

Das eleições de 2004 são muitos os processos que ainda não tiveram resolução deixando os municípios cobertos sob a sombra da instabilidade político-administrativa. A instabilidade, além da sensação de impunidade, deixa os municípios a mercê de decisões contraditórias da Justiça Eleitoral, além da descontinuidade dos serviços públicos essenciais como saúde e educação.

A predisposição do combate à prática da compra de apoio político nos altos escalões do poderes Executivos e Legislativos federais, demonstrada pelo STF deve ser encarada por nós cidadãos como exemplo para combates diuturnos e diários em todas as esferas. As eleições municipais de 2008 podem ser um excelente começo.

O mensalão no alto escalão da República é a mera repetição de uma prática histórica no nosso país. O combate a essa prática deve ser feito também pelo Poder Judiciário como um todo, assim como pelo Ministério Público que a cada dia angaria mais respeito por parte da população pelos bons serviços prestados.

A participação popular também deve ser incentivada, seja ela individual ou coletiva. O eleitor pode denunciar abusos e condutas dos políticos através da representação junto ao Ministério Público Eleitoral durante as eleições e fazer uso sempre que necessário e forma responsável da Ação Popular e da Ação Civil Pública, através da representação.

A nefasta prática de compra de apoio político deve ser combatida na sua origem: a compra de votos nas eleições. O político que comete crimes de natureza eleitoral e continua impune ou tem uma pena insignificante, vai reproduzir em todos os ambientes políticos por onde passar essa mesma prática, só que de forma invertida, vendendo o mandato popular que recebeu em troca de influência no poder executivo - cargos, verbas não declaradas e obras. É a famigerada infidelidade partidária, na qual o político sai de um partido de oposição para outro da base.

É apenas o mais do mesmo.

Enfim, para expurgar o mal da política chamado compra de apoio político -o mensalão, deve ser combatido na sua causa principal, a captação ilícita de sufrágio nas eleições como forma de evitar a sua repetição pelos políticos nas esferas políticas por onde passar.


Artigo publicado no site Bahia Notícias(
http://www.samuelcelestino.com.br/).

E SE FOSSE FHC?

Fazendo o papel do advogado do diabo...
Curiosidade de saber como pessoas e partidos que aqui no Brasil apóiam as medidas ditatoriais de Chávez
fossem ou quisessem ser implementados pelo ex-presidente FHC durante seu governo.
Não custa lembrar que lutaram ferozmente contra a emenda da reeleição. E se FHC quisesse aumentar o seu tempo de mandato e a possibilidade de reeleição eterna?
E se FHC apresentasse uma PEC, na qual ele pudesse criar ou extinguir estados e nomear os governadores, sem qualquer interferência do Congresso ou do Poder Judiciário?
E se FHC quisesse ter o poder de nomear administradores locais? Bastaria um decreto para nomear prefeitos, principalmente de capitais, ao invés do mesmo ser eleito democraticamente...
E se FHC tivesse poder para decretar estado de exceção no qual o direito à informação ficasse restrito durante tempo indefinido, apenas e tão somente pela vontade presidencial?
E se FHC pudesse desapropriar qualquer imóvel sem o necessário controle judicial em nome do interesse coletivo?
Ainda bem que a Venezuela se manifestou contra a tentativa fascisto-constitucional de Chávez e votou NÃO!!
A Venezuela quer ser o Brasil!!