quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Conhecer a história e viver a história

Faixa na festa das Mercês
Barcelona é mesmo uma cidade sui generes aqui na Espanha, porque possui toda uma atmosfera (não sei se é essa a palavra) diferente, uma cidade cosmopolita cheia de gente do mundo todo que mora aqui, em especial mulçumanos, indianos e paquistaneses. Sobre esses últimos, muitos deles são donos de pequenas mercearias de bairro onde são encontrados artigos de primeira necessidade, pois bem, quando os barceloneses precisam de alguma coisa eles indicam um "PAC" em referência aos paquistaneses. Sabe o lugar onde se encontra de tudo? No "Chino", a nossa loja de "R$ 1,99".
Mas a cidade é muito mais que isso. Na festa das Mercês, padroeira daqui, toda a cidade foi tomada por música e apresentações artísticas e culturais, uma delas é típico do país, com origem em Valência, eu acho, são os Castellers (pirâmides humanas) que juntou uma multidão para assistir a final da competição. Assim que começaram as apresentações uma enorme faixa desceu  (ao som de aplausos) sobre um edifício conclamando a população a votar pela aprovação da independência da Cataluña, hoje uma região autónoma.
O catalão é diferente do espanhol, assim como devem ser os bascos. A língua, a história, a culinária, a arte, a cultura, enfim... Há muito tempo os bascos e catalãos tentam se tornar independentes, mas acho muito difícil que aconteça.
Falando sobre a história catalã, há grandes retratos no centro histórico da cidade mostrando o estrago que a ditadura de Franco fez na região. Além de destruir diversos monumentos e castelos em toda a Cataluña, era proibido falar o catalão sob pena de morte. Exatamente por esses motivos o povo faz questão de falar o catalão, pendurar a bandeira nas casas e carros e torcer pelo Barcelona primeiro, segundo... e por último a Espanha, desde que a seleção tenha por base o time do local.
A Barcelona moderna, pós-Olímpiadas, mostra como uma cidade pode trazer benefícios permanentes para a população depois de um grande evento: sistema de transporte que inclui metrô, ônibus e trens, construção do centro de convenções (agenda até o fim de 2011) e do porto da cidade antes abandonado e muito mais.
O catalão conhece a sua história, tem orgulho dela e impede que qualquer um venha "reescrevê-la". Nós brasileiros temos muito o que aprender com o povo catalão.
Ainda sobre o aprendizado, hoje foi dia de greve geral em toda a Espanha (e também nas capitais européias) para protestar contra as medidas tomadas pelo presidente para amenizar os efeitos da crise, a principal delas, a reforma trabalhista.
A Espanha é monarquia parlamentarista, cujo primeiro-ministro Jose Luiz Zapatero é filiado ao PSOE, portanto, de um partido de esquerda historicamente ligado aos sindicatos. Esta ligação não foi impedimento para que milhares de pessoas aqui e nas principais cidades do país fossem as ruas protestar contra tais medidas e criticar governo e presidente. 
Do lado de cá do atlântico nem sinal de peleguismo, ao contrário de um país tropical...
Organização do protesto
Greve Geral significa pára tudo mesmo! Nada funcionou durante o dia todo na cidade e o sistema de transporte estava a 20% de sua capacidade, até menos eu acredito. No começo da tarde, na principal praça, osradicais fizeram piquetes em frente a bancos e entraram em confronto com a polícia chegando a queimar um carro. Foi no final da tarde, porém, que parecia que toda a população da cidade estava reunida em um só lugar, o Paseo de Gracia.
Passeo de Gracia tomado por manifestantes
Milhares e milhares de pessoas se concentraram no alto da avenida para marchar até a Cataluña e no caminho centenas de pessoas com cartazes feitos em casa se juntavam a multidão. Famílias inteiras participaram, levaram até carros de bebê ou no colo, outras esperavam nas calçadas e mostravam para os pequenos a quantidade de gente na cidade.
No começo da tarde estava na Cataluña acompanhando os protestos e pensava que saía dali a manifestação, só que vi muita gente subindo e subindo. No meio do caminho, perguntei a um fotógrafo, diante de um mar de gente que surgiu na minha frente, se a manifestação iria até a praça ele disse que sim e perguntou quem eu era, disse que era um brasileiro em férias, ele respondeu que a minha curiosidade ia me fazer entrar na história, perguntei por que, esse dia (29-5) iria para os livros de história... 
Ouvir que uma greve geral deste porte não acontecia há anos por estas bandas, tomara que ele tenha razão...

2 comentários:

  1. Carlos, por aqui a maior tranquilidade. Continuamos brincando de "Simon says" só mudamos um pouquinho para "Lula says" e todos fazem rsrs
    Opa, todos não, há uns poucos revoltados!
    Um abraço e continue se divertindo!

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  2. Acompanhei sua reportagem pelo Globo,meu caro!Isso é só um começo,ah adorei sua facada na questão do peleguismo que hoje é uma vergonha alheia neste Brasil!
    Abraço amigão!

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