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Jornal A Cidade (Thomas Larson, em 07/07/2009) |
"...A novidade veio dar à praia,
na qualidade rara de sereia.
metade o busto
D'uma deusa Maia
metade um grande
Rabo de baleia".
Ano novo é tempo de recomeçar e renovar, ainda que estejamos apenas seguindo o calendário gregoriano e acompanhando os movimentos da Terra em volta do Sol e nada mais...
O sentimento de ano novo, governo novo traduz exatamente o que diz a letra do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, nesta particular interpretação: é uma novidade pela metade. Apesar do busto da deusa, o rabo de baleia permanece ali, ainda que disfarçado entre os subterfúgios da novidade "velha".
O que dizer sobre o novo governo Dilma? Primeiro, o governo precisa de fato começar, ainda que tenha apenas 30 dias. E daí, não era o governo de continuação? Cadê a gerente de todos os programas importantes do governo anterior (atual)? Como confiar naquele discurso de busca pela ética com a escolha dos ministros do Turismo e da Pesca?
Falando em novidade, porém, interessante a opinião da presidente sobre direitos humanos em entrevistas a jornais portenhos. Se hoje ela condena o Irã, ao contrário do seu mentor, o ex-presidente Lula, então a postura dele estava errada e mesmo assim era defendida. Novidade?
A nova presidente também prometeu uma relação diferente com a imprensa brasileira. Ou seja, se considera que a sua postura como presidente deve ser diferente daquela adotada por Lula, então a de Lula não estava certa e que as críticas tinham fundamento. Novidade? Estranho, depois de eleita a nova presidente concedeu apenas entrevistas a duas redes de televisão e nada mais. Novidade?
Reportagens citam diferenças entre os governos de Lula e Dilma. É certo que ambos têm perfis diferentes e que ela fará um governo "para dentro", no sentido diametralmente oposto do ex-presidente, que finalmente não está todos os dias opinando sobre tudo, se auto-promovendo e culpando governos anteriores e a oposição por tudo de mal que acontece ou aconteceu no universo.
Infelizmente (para nós da planície), e por todos os motivos do mundo (para ela), a nova presidente não pode chamar de "herança maldita" o que recebeu do seu padrinho, embora poderia muito bem denominar assim, pelo menos para manter a tradição. A começar pela decisão inominável de não extraditar o terrorista italiano do PAC, Cesare Battisti, alegando que o mesmo não estaria seguro na Itália, uma democracia.
Desconfia-se, pois, que a presidente esteja assim reclusa porque está tentando lidar com a tal herança (maldita), ao mesmo tempo em que pensa como não deixar transparecer as culpas, ou melhor, as responsabilidades do governo anterior de que, aliás, era parte integrante importante.
A nova presidente herdou uma dívida de bilhões, inflação em viés de alta, programas paralisados, máquina "inchada" de companheiros e deverá tomar atitudes nada populares se quiser resolvê-los. Por enquanto, os ministros não se entendem se os cortes no orçamento irão atingir ou não as filhas da mãe, ou melhor, as obras do PAC.
Fala-se em novidade, renovação, também em Ipirá/BA. Toda novidade e renovação são sempre bem-vindas, difícil encontrar aquele que discorde. Estranho, no entanto, é ouvir falar em renovação partindo de grupos que apoiaram e apóiam o atual governo. Estranho ouvir falar em renovação justamente daqueles que estão desfrutando do poder o qual ajudaram a eleger dizendo que era o melhor para Ipirá e por ser de todos.
Antes de terminar com Gil, uma frase do filme O Leopardo do diretor Lucino Visconti que sintetiza este primeiro escrito do ano, que se propôs a falar de novidade, no entanto, viu-se como Cazuza, em um museu de grandes novidades: "Algo precisa mudar para que tudo permaneça igual".
"...A novidade era o máximo
Do paradoxo...
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho..."